Dossiê | Entre riffs e rebeliões: a presença feminina e queer no heavy metal sulamericano
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Tratando sobre os problemas de opressão sofrido por mulheres do terceiro mundo, Gloria Anzaldúa propõe um tipo de resistência: a que se dá através do fazer epistêmico e da escrita. “Porque a escrita me salva dessa complacência que temo. Porque eu não tenho escolha. Porque eu preciso manter os espíritos da minha revolta e de mim mesma, vivos. Porque o mundo que eu crio na escrita compensa o que o mundo real não me oferece.” (Anzaldúa 1981: 168). A partir da escrita, ela irá dizer, é possível que conheçamos a nós mesmas e ao nosso mundo. Complementamos esse pensamento afirmando que, com a escrita, também formamos o mundo do jeito que queremos, pois em contexto de batalhas epistêmicas, é a partir de escritas que vemos nossos espaços sendo definidos e, em muitos casos, limitados.
Nós, mulheres, cientistas sociais, precisamos estar em constante luta para assegurar nosso espaço que nos foi negado por muito tempo. Um reflexo dessa negação se dá na forma em que somos usualmente mais cobradas em relação aos nossos colegas que são, em sua maioria, brancos, cisgênero, heterossexuais e de classe média. Situações sexistas e misóginas são recorrentes em nossos ambientes de trabalho. Quando procuramos compreender o universo acadêmico através das perspectivas interseccionais, a situação se complexifica, escalonando para níveis extremos de violência. Essas situações se reverberam em toda a esfera acadêmica e os estudos de música popular, incluindo os estudos de heavy metal, não são uma exceção dessa realidade que precisa ser modificada.